O que eu fiz fim de semana? Assisti Espiral - O Legado de Jogos Mortais

   


Me lembro quando comecei meu primeiro emprego, no supermercado Nacional do shopping Iguatemi. O mercado funcionava 24 horas e em um dos meus intervalos na madrugada meus colegas comentavam sobre um filme muito louco onde haviam três homens em um banheiro, sendo que dois estavam acorrentados e participavam de um jogo macabro de vida e morte e o terceiro estava morto no meio do cômodo. Com empolgação comentavam da situação que aqueles caras se encontravam e da surpresa que era quando o terceiro se levantava do chão todo ensanguentado declarando o fim do jogo para o sobrevivente daqueles “jogos mortais “(meio óbvio, mas a tradução do título Saw -serrar- para jogos mortais foi mais assertivo que calça moletom em gordo). Um dos meus colegas se emburrou ao descobrir o final do filme já que ainda não tinha assistido, mas outro colega já interrompeu dizendo que já estava estreando o segundo filme. Sempre fui muito fã de filmes e quando escutei sobre esse tal “Jogos Mortais” corri para a locadora para alugar o dito cujo (como naquela época eu não tinha internet as informações que eu conseguia obter sobre filmes e séries eram de revistas, da televisão e do boca a boca com colegas e amigos). Minha sorte é que o Jogos Mortais e Jogos Mortais 2 já estavam disponíveis e aluguei logo os dois. Claro que minha experiência com o primeiro filme não foi plena já que o plot twist do filme já me haviam revelado (talvez por isso ainda prefiro os plot twist dos filmes “O Sexto Sentido “, de 1999, que assisti sozinho em uma noite de temporal quando ainda passavam filmes de terror no SBT e “O Nevoeiro” de 2007, outra grata surpresa da época das locadoras e dos dvds 3 por R$10) mas mesmo assim o filme prendeu minha atenção do começo ao fim. E as armadilhas que os personagens eram colocados? A armadilha de urso reversa que a Amanda escapou foi de explodir a cabeça (não a dela, só a nossa mesmo). Jogos Mortais foi a inspiração de muitos títulos que viriam a seguir. Virou tendência, e isso que foi um filme independente saído direto da mente perturbada de James Wan. 
   Já o Jogos Mortais 2 seguia a história do primeiro nos apresentando melhor o assassino em série Jigsaw. Desta vez não eram três homens presos no banheiro e sim sete pessoas presas em uma casa.
   Tudo foi elevado para a enésima potência, como era de se esperar de uma continuação de um filme tão rentável como o anterior. Mais vítimas, mais armadilhas, mais sangue e um novo plot twist. Como no filme anterior a armadilha inicial é um show a parte: o policial Michael Marks está preso em uma máscara mortal. Para tirar a armadilha precisa da chave que está atrás de seu olho esquerdo, mas diferente da Amanda, Marks não consegue se livrar da armadilha. No fim descobrimos que a Amanda está ajudando Jigsaw e , ao som da música Hello Zepp Overture de Charlie Clouser, tema emblemático que indicaria a revelação de todos os plot twists dos filmes seguinte, descobrimos que se o detetive Eric Matthews, que passou o tempo todo vendo seu filho Daniel participar dos jogos insanos de Jigsaw acompanhado de 6 ex presidiários presos pelo próprio Eric, tivesse escutado o Jigsaw que pediu apenas calma e paciência teria terminado o filme ao lado de seu filho e não preso na armadilha do primeiro filme. 
   Já o filme Jogos Mortais 3, de 2006, eleva novamente o número de armadilhas, o número de gore, o número de assassinatos e insiste em plot twists que já não impactam tanto. Ao escutar o tananã tananã nanã já podemos esperar por reviravoltas mirabolantes tentando nos pegar, mas já no terceiro filme essa fórmula já se desgasta. Pelo menos neste filme Jigsaw ainda está vivo, já que o enredo dessa vez gira em torno da dra. Lynn Dellon que havia sido sequestrado para ajudar o assassino na sua luta contra um câncer maligno que está matando-o. 
  O jogo desta vez é com o marido da dra. Dellon, Jeff que       -tananã tananã nanã -

no final encontra Jigsaw e acaba matando-o e de lambuja sua esposa já que a mesma possuía em seu pescoço um explosivo que seria acionado assim que o Jigsaw morresse. Bom depois destes três filmes, o arco de Jigsaw foi concluído e podemos encerrar a franquia de Jogos Mortais correto? Não! Desculpa, NÃO!!!! 
  Depois deste filme foram lançados mais 5 até 2017. Histórias com reviravoltas forçadas e cansativas, com discípulos do assassino em série, com armadilhas póstumas e histórias retrogradas foram brincando com nossa inteligência. Claro, não sou crítico de cinema então não posso falar de estrutura de roteiro, posicionamento de câmera ou direção de arte, ou do caralho que for mas posso ter opinião e, lembrando novamente, como fã de filmes, a cada Jogos Mortais novos eu ficava preocupado para onde a história nos levaria. Será que teríamos um Jogos Mortais X: Jigsaw no espaço? Ou teríamos um Jogos Mortais no Halloween: Jigsaw vs Mike Myers? 
  Lembro que quando lançaram Saw 3D ou Jogos Mortais O Final (acreditem, eu realmente achei que era o final) em 2010 fui faceiro no Cinema do Itaú (antigo Unibanco Artplex) do shopping Bourbon Country acompanhado da minha parceira de filmes Amanda (parceira de filmes, de lanches, de alegria e tristezas...enfim parceira de vida, te amo minha flor...errr vamos voltar ao raciocínio). O cinema estava lotado e eu, malandro que sou tive uma ideia: na época (não sei se ainda funciona assim ) se comprasse o ingresso com o cartão do Itaú pagava meia entrada, então tentei comprar dois ingressos no meu cartão. A caixa me informou que poderia comprar uma meia entrada por cartão. Solução: comprei meu ingresso no meu cartão, saí do caixa e dei meu cartão para a Amanda comprar a meia entrada ela. Duas meia entradas. Gênio. Uns dez minutos na fila pra entrar na sala de cinema, eu com duas pipocas doces médias, duas cocas bem geladas, uma barra de chocolate (claro paguei só duas meia entradas, sobrou dinheiro) e na nossa frente na fila uma gurizada, uns dois gurizões de quinze anos e umas três gurias de uns quatorze anos estavam fazendo festa, afinal iriam assistir um filme +18. Quando foram entrar na sala o fiscal pediu o documento deles e ,como suspeitei, eram todos de menor. Então lá se foi uns três ou quatro minutos de discussão, briga e a tentativa frustrada da gurizada ver o filme (vou dizer que foi até sorte deles se pá). Eu e a Amanda mais os outros “adultos” começamos a reclamar e pedir pro pessoal ir embora pois já estavam atrapalhando a fila e atrasando o filme. Tudo resolvido eu e minha companheira fomos passar pelo fiscal. Tudo certo, na minha cabeça. Ele pediu pra ver o cartão que foi usado para comprar o ingresso. Cheio da pompa já tirei meu cartão do bolso e apresentei para o fiscal. Ele pediu pra ver o outro cartão. 
   "-Outro cartão, como assim outro cartão?" – me afrouxou as pernas 
   "-Preciso ver o outro cartão. Vocês compraram uma meia entrada com esse cartão. 
E a outra meia entrada foi com qual? É uma meia entrada por cartão"
   Pronto, me embananei todo. Começou a cair pipoca, a derramar o referi. Como não tinha muito mais o que fazer, a Amanda teve que voltar no caixa pra pagar a diferença do ingresso e eu fiquei trancando a fila do cinema e recebendo um monte de elogio dos meus amigos “adultos” da fila. Devia ter ido embora com a gurizada. Mas tudo certo. Começamos a ver o filme e no final...devia ter ido embora com a gurizada. Nem a participação do Chester Bennington na armadilha dos racistas presos no carro valeu a humilhação que sofri pra entrar na sala de cinema. Mas isso são histórias da década passada.
   Chegamos em 2020 e foi anunciado Espiral - O Legado de Jogos Mortais. Filme estrelado e roteirizado por Chris Rock e com participação de Samuel L Jackson. Mais um filme de Jogos Mortais? Mais um. Pra onde iria a história? Será que o “cara” de Todo Mundo Odeia O Cris seria o que a franquia precisava para rejuvenescer? Será que Nick Fury mudaria alguma coisa no universo das armadilhas insanas? 

 Óbvio que fui assistir o filme cheio de fome. Fui pra devorar o filme e acabei com indigestão. Filme sem graça, roteiro super, SUPER, previsível. Por mais que os outros filmes acabavam se tornando mais do mesmo, ainda divertiam no quesito armadilhas. Todo filme acabava tendo uma ou outra armadilha intrigante, que nos colocava no lugar dos torturados. Quem nunca se viu pensando como sairia daquela armadilha do pêndulo com lâmina na ponta ou como se livraria daquela armadilha do caixão de vidro? E a piscina de seringa ? Chega a dar arrepios só de lembrar. As armadilhas desse filme são tão sem graça que dá preguiça de lembrar delas. A armadilha inicial é sempre bem elaborada nos outros filmes. Neste é um policial corrupto que fica pendurado no meio do metrô e tem que se desvencilhar arrancando a própria língua antes que seja atropelado pelo trem. Tédio. Assistindo essa cena a única coisa que passou na minha cabeça era a cena do Omini Man e do Invencível no episódio final da primeira temporada da série da Amazon Prime.
  Com certeza uma cena mais hardcore e brutal que a desse filme. Com mais sangue também. E cadê o Billy? Cuidado com a piada que o filme nos conta: como as vítimas do novo assassino são os polícias corruptos o boneco Billy foi trocado por um boneco de porco. Entendeu: policial, porco...Bah! 
  O Chris Rock deve ter ficado tão feliz que produziram o roteiro dele que tentou atuar de forma séria e sóbria. Tentou dar seu melhor nessa obra...Fracassou. A todo o momento parece que ele vai começar a contar uma piada pra nós. Daí fecha a cara, faz cara de mal e fala uns palavrões aleatórios. ”F*ck man, Sh*t man, Sei lá o que man”. Mirou em Denzel Washington de “Um Dia de Treinamento “ acertou qualquer filme de paródia dos irmãos Wayans. 
  Coitado do Samuel L Jackson. Tá mais perdido nesse filme que palmeirense em título de Mundial. Só sendo muito amigo do pessoal do filme pra topar participar desta película. Ainda mais como pai do Chris Rock. Eu pensei que eles tinham a mesma idade em muitos momentos do filme. E o roteiro...Quando eu for na farmácia não pedirei mais remédio genérico e sim remédio Espiral - O Legado de Jogos Mortais, porque mais genérico que isso não tem. Segue check list: 
   (X) Filho querendo vingar pai morto. 
   (X)Policial honesto contra policiais corruptos
   (X)Policial honesto corrompido por policiais corruptos
   (X)Policial veterano não quer ser parceiro de policial novato 
   (X)Policial novato comandou todos os passos dos demais policiais pois ele era o assassino 
   Duzentos e quarenta e sete filmes dos anos noventa tinham pelo menos um destes itens. No fim o detetive Zeke , o Chris Rock, tem que salvar seu pai Marcus, Samul L Jackson, de uma armadilha que drena o sangue de seu corpo enquanto seu parceiro detetive Schenk, que tinha sido dado como morto, revela o plot twist maroto deste filme que é blá,blá,blá (vocês realmente querem que eu diga que o detetive Schenk está se vingando dos policiais por que eles mataram o seu pai que era testemunha contra um policial corrupto e todos da delegacia passaram panos quentes no caso? Por favor né !) 
   Esse filme foi cansativo. Espero que desta vez o pessoal de Hollywood perceba que já espremeram o que deu desta franquia e deixem nosso amigo Jigsaw descansar. A não ser que o próximo filme seja com o Pinhead. Daí já não sei de mais nada. 
   Mais um filme assistido com sucesso! Valeu meus bruxos. 
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